(Também conhecido por Etapa Final do Campeonato Brasileiro 2012)
A modalidade Bench Rest no tiro esportivo exige dos
atiradores muita precisão. A mosca possui 2,5mm e fica posicionada a 25m do
atirador. Todos os detalhes devem ser considerados pelo atirador para que seja
possível acertar um alvo tão pequeno. Condição da arma, solidez do apoio,
técnicas de acionamento, seleção de chumbos, leitura das condições climáticas
etc. No quesito condições climáticas a pressão atmosférica, temperatura e
principalmente o vento devem ser considerados pelo atirador. Para ter uma
percepção da intensidade e direção do vento, usamos as bandeiras de ventos.
Figura 1 - Bandeiras de Vento by Igor Porto |
A bandeira de vento é um elemento indispensável para
competição em alto nível. A aba com a seta indica a direção, a fita permite uma
avaliação da intensidade e a esfera bicolor evita erros de perspectiva.
O projetista escolheu uma esfera de isopor, que é composta
de dois hemisférios. Foi feito um furo em um dos hemisférios, por onde foi inserida
a haste. Cada hemisfério foi pintado de uma cor. O transporte das bandeiras de
vento, apesar das bases desmontáveis, exige espaço e cuidados especiais. As
bolas de isopor no projeto original não podem ser removidas e como são feitas
de um material frágil tornam o transporte, um desafio de logística.
Ao ocupar o 2º lugar no ranking da categoria USBR no
campeonato brasileiro de 2012, participar da etapa final e presencial no Rio de
Janeiro tornou-se uma meta a ser alcançada. O transporte escolhido foi o aéreo,
porém depois de comprada a passagem veio a surpresa: somente 23kg para a
bagagem. Após gastar algumas horas planejando como dividir a bagagem e os
equipamentos, resolvi alterar o projeto original para que pudesse desmontar as
bolas de isopor. O resultado está na figura 2.
Figura 2
- Bola de isopor longitudinal
|
Com as bolas podendo ser desmontadas, foi necessário, criar
um sistema para transporta-las em segurança. Decidi fazer um canudo de
cartolina e carrega-las na mão durante a viagem.
Malas prontas, viagem de carro até Uberlândia para pegar o
avião com destino ao Rio de Janeiro. Malas pesadas, arma de pressão, fiquei um
pouco nervoso ao fazer o check in, porém todo o procedimento ocorreu bem.
Enquanto aguardava sentando a hora de ir para o embarque, veio a funcionária da
companhia aérea, com o canudo com as bolas de isopor. Ufa! Depois de tanto
trabalho só faltava esquece-las em Uberlândia.
Figura 3
- Tubo de cartolina para transporte das bolas de isopor
|
Embarcado, viagem tranquila, até o destino final. Rio de
Janeiro! Na saída do aeroporto, não me lembrava do nome do hotel que tinha
feito reserva, fui consultar no Ipad.
Percebo que estava sendo observado por um rapaz com alguns panfletos e logo sou
abordado com uma solicitação para empréstimo do meu tablet. “Sr. Preciso
comprar uma passagem que só está sendo vendida pela Internet. Posso usar seu
Ipad?” O sentido aranha disparou e rapidamente guardei o equipamento,
justifiquei que era só wifi e fui andando. O rapaz já começou a gritar que ele estava
falando comigo e que não era para dar as costas, que eu estava regulando
mixaria e que eu merecia ser assaltado....
Entrei rapidamente no taxi, e dirigi-me ao hotel. Ao chegar
no hotel, pego minhas malas, e apetrechos e vou fazer o check in. Nisso o
motorista do taxi entregou para o rapaz da portaria do hotel minhas bolas de
isopor que eu estava esquecendo no interior do taxi. Ufa! Depois de tanto
trabalho só faltava esquece-las no taxi.
Instalado, começo a abrir as malas para preparar os
equipamentos para a competição. Ligo para o colega Flávio para saber se valeria
a pena ir ao CNTE, mas pela hora (15:30) fui informado que era melhor ficar no
hotel. Ótimo, assim dá tempo de procurar areia para colocar no sandbag
recém-comprado. O pessoal do hotel gentilmente cedeu um pouco de areia de
manutenção, e com um peneira comprada em uma loja de utilidades ao lado do
hotel, comecei o processo de enchimento do sandbag.
Neste instante comecei a sentir um mau cheiro. Pensei que
droga de hotel. Tem algo podre aqui no quarto. Comecei a investigar o banheiro,
armário, debaixo da cama, debaixo do colchão, travesseiros, cobertas, gavetas
do criado mudo.... Não encontrei nada.
Lembrei-me que em um treino em Uberlândia, eu havia pisado
acidentalmente no rejeito de uma vaca. Fui verificar o calçado e não pude
detectar o foco do odor. Ao revirar a mala, percebo a fonte do odor: um apoio
de madeira para o rear bag. Neste instante pude perceber porque o rapaz na
madeireira recusou-se a cobrar pelo pedaço de madeira que depois vim descobrir
chamar-se “pau b*sta”. Após usar o toco na prova, este com certeza não voltaria
para Araxá.
À noite, participei de uma reunião entre atiradores e
comissão técnica, onde pude conhecer alguns expoentes do tiro brasileiro. Pude
também constatar colegas preocupados em promover o esporte e infelizmente
outros atiradores preocupados somente com o próprio umbigo.
Após a reunião, um bate papo agradável no restaurante com
atiradores mineiros e maranhenses. No dia seguinte acordar cedo, pois o ônibus
providenciado pela CBTE saia às 7:00Hs. Ao chegar no ônibus, fui saudado por um
atirador: “Você deve ser o Ashidani!”. “Sou eu” respondi alegremente. Depois
descobri que ele estava se referindo ao meu primo Wilson Ashidani que pratica
Tiro defensivo... Desfeita a confusão, e algumas risadas pela coincidência,
seguimos a caminho do CNTE.
Depois de uns 30 minutos no trajeto, veio a lembrança: “
Esqueci as bolas de isopor no quarto!!!!” Rapidamente comecei a bolar planos
para resolver a encrenca: “chegando lá pego um taxi e volto para o Hotel, pego
as bolas e volto para o CNTE”... Porém depois que vi a distância que fica o
CNTE do hotel desisti da ideia e consolei-me em usar as bandeiras de vento sem
as bolas de isopor....
Chegando no CNTE, fiquei deslumbrado... Realmente
instalações maravilhosas. Fui acompanhando o movimento do grupo, e acabei me
instalando no estande de 50m.
Figura 4
- Estande 50m
|
Admirando as carabinas maravilhosas dos atiradores, fui
modestamente montando minha parafernália na única mesa de BR que achei no
local. Neste momento chega ao local o companheiro de Fórum Gera, que apareceu
para participar. Após breves palavras, Gera sai e volta informando que o BR é em
um outro estande e que será somente na parte da tarde...
Guardei as tralhas e fui para o loca correto.
Figura 5
- Estande duelo, USBR, Mira aberta 25 e 50
|
Enquanto aguardava o horário da prova fui apreciar o
andamento de outras modalidades.
Figura 6
- Estande 10m
|
Andando de um lado para outro, deslumbrado com o ambiente
maravilhoso, querendo acompanhar todas as provas. Quase me esqueço de comer
algo. Muito calor demanda o consumo de muito líquido, providenciado na cantina
do local.
Agora entendo porque jovens que vão para jogos olímpicos
muitas vezes tem um desempenho fraco. Na hora do almoço percebi que estava
cansado, com as pernas doloridas. Resolvi descansar e me concentrar um pouco.
Fiquei no estande de tiro 10m, que tinha ar condicionado.
Enquanto apreciava as provas no ar condicionado, uma grata
surpresa. Meu primo Wilson Ashidani, aparece e diz que está na competição de
tiro defensivo. Demos umas voltas para mostrar aos atiradores que haviam 2 Ashidani´s!
Hora da prova, monto minha parafernália, composta de front
rest, rear bag, toco fedido, chumbo, bandeiras de vento, pellets de limpeza,
nível bolha, carabina, luneta etc. Começa um vento que inexistia na parte da manhã.
Perto da mesa onde eu estava, ventava em minha direção, no meio da pista
ventava em direção ao alvo e perto do alvo ventava para a esquerda. Achei que a
denominação que um colega deu para as bandeiras de vento extremamente adequada:
“Birutas”. As bandeiras estavam girando para todo lado!
Caprichei na prova, porém nos últimos 4 alvos não fui muito
bem. Percebi que a pressão do cilindro da arma havia caído abaixo do limite
regulado. Infelizmente os cilindros disponibilizados pela CBTE estavam com
pouco ar. Lição aprendida: Levar cilindros completos de casa ou encher logo que
chegar ao local de competição!
Minha pontuação final foi 240 pontos, o que foi muito boa
considerando a condição de vento. Acabei empatado em 1º na etapa o que permitiu
manter minha posição de 2º colocado no ranking nacional.
De volta para o hotel, peguei um balde de KFC, comi e fui
dormir. Quase perdi o ônibus no dia seguinte, que saiu novamente às 7 horas. O
detalhe é que deveríamos realizar o checkout. Após pagar dirigi-me ao ônibus.
Um rapaz veio correndo trazendo as bolas de isopor que quase havia esquecido no
balcão do hotel! Ufa! Depois de tanto trabalho só faltava esquece-las no hotel.
Finalmente as bolas de isopor chegaram ao local de
competição! Só que com 1 dia de atraso...
Assisto a mais algumas provas e aguardo a premiação.
Figura 7
- Pódio USBR
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A equipe de Minas Gerais, composta por Flávio, eu e o Lobão,
conquistou o 1º lugar.
Imediatamente após a premiação, peguei o ônibus que iria
levar os atiradores ao aeroporto. Chegando no aeroporto, novamente o stress de
fazer o checkin de malas pesadas, carabina de pressão. Desta vez teve mais uma
novidade, que o pessoal da infraero não deixou eu embarcar com minha bagagem de
mão, assim tive que despachar ela também. Felizmente o pessoal da companhia não
cobrou o excesso de gabagem. Voltei correndo para o embarque, quando a funcionária
da Trip entregou-me as bolas de isopor que eu havia esquecido no balcão da
companhia aérea. Ufa! Depois de tanto trabalho só faltava esquece-las no RJ.
Na escala em BH, encontrei com o colega Flávio Vieira, que
havia vindo com uma aeronave que partiu do galeão (eu tinha vindo do Santos
Dumont). Após escutar todas as aventuras das bolas de isopor, Flávio comentou
que já teria largado elas para trás a muito tempo.
Eu respondi que, com tantas coisas conspirando em favor das
bolas de isopor, os deuses do tiro poderiam me punir caso eu as jogasse fora.
Assim elas voltaram sã e salvas para Araxá.
Parabéns pelo empenho Pedro.
ResponderExcluirE que saga é essa das bolinhas de isopor heim, me prendi a leitura do texto todo, pra saber qual fim teria as "bulinhas".
Abraço
Paulo Jr (Breu)